Vaza Toga: Tagliaferro aponta Giselly Siqueira, nora de Míriam Leitão, como operadora de censura no TSE
Perito afirma que conteúdos eram removidos sem ordem formal e que Giselly atuava como filtro estratégico entre juízes, servidores e o núcleo de Alexandre de Moraes.
Em audiência transmitida ao vivo no Senado nesta terça-feira, 2, o perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes, fez uma série de revelações explosivas. Entre elas, a de que pedidos de remoção de conteúdos não passavam pelos trâmites oficiais, mas eram enviados por grupos de WhatsApp e mensagens diretas. Entre os nomes citados, chamou atenção o de Giselly Siqueira, recém empossada como secretária de Comunicação do Supremo Tribunal Federal (STF) e nora da jornalista Míriam Leitão, da Rede Globo.
A sessão foi realizada na Comissão de Segurança Pública (CSP), convocada pelo senador Magno Malta (PL-ES) e presidida por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no mesmo horário em que o STF julgava o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Tagliaferro, por videoconferência, afirmou que Giselly atuava como um filtro estratégico: recebia demandas de juízes, servidores e auxiliares de tribunais, e repassava ao núcleo próximo a Moraes. Para ele, isso reforça a existência de um “gabinete paralelo” de censura no TSE.
A denúncia atinge diretamente quem hoje é responsável pela comunicação institucional do STF. Giselly assumiu o cargo em 30 de julho e seguirá no comando da Secom durante a gestão de Edson Fachin, que tomará posse em 29 de setembro, tendo Moraes como vice. A acusação conecta a atual chefe da comunicação do Supremo ao mesmo sistema que, no TSE, coordenou ações de repressão à chamada “desinformação” nas eleições.
O depoimento ocorre em meio a crescente pressão sobre o Judiciário, após os vazamentos da “Vaza Toga 2”, que revelaram bastidores de investigações clandestinas conduzidas por ordem de Moraes no TSE. O nome de Giselly, antes restrito ao bastidor técnico, agora está diretamente ligado ao centro da engrenagem de censura.
A ligação com Míriam Leitão
“Esses pedidos eram enviados pelo capitão Eliton e pela Adaíres, que era secretária de Transporte do Tribunal. Eles eram encaminhados por Giselly Siqueira, que não era ninguém menos que a nora de Míriam Leitão e, à época, ocupava o cargo de secretária de Comunicação do TSE”, afirmou Tagliaferro durante a transmissão.
A menção à família não foi por acaso. A vida pessoal de Giselly sempre gerou questionamentos nos bastidores de Brasília. Ela é casada com o jornalista Vladimir Netto, repórter da TV Globo e filho da comentarista Míriam Leitão. Crítica mordaz de Jair Bolsonaro, Míriam Leitão se transformou, nos últimos anos, em uma das vozes mais ativas em defesa do governo Lula. Nas redes, muita gente se refere a ela como a “porta-voz não oficial” do regime. Durante o governo anterior, chegou a classificar Bolsonaro como “grotesco e perigoso”. Já na gestão petista, tornou-se alvo de piadas ao tentar — sem sucesso — aliviar os dados negativos da economia do governo Lula.
Vladimir Netto, por sua vez, é repórter da Globo em Brasília, vice-presidente da Abraji, e autor do livro Lava Jato – O juiz Sérgio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil (2016), que inspirou a série O Mecanismo, da Netflix. Sua cobertura da operação e o tom elogioso à figura de Moro geraram críticas de parcialidade. O ministro Gilmar Mendes chegou a citar conversas entre Vladimir e Deltan Dallagnol como indício de uma imprensa que atuava como “assessoria” da força-tarefa.
Nas redes sociais e blogs de esquerda, como a Revista Forum, especulações cresceram sobre a possibilidade de Giselly, à frente de estruturas sensíveis de comunicação, ter favorecido o marido com informações internas. Nunca houve prova documental, mas o simples risco de conflito de interesse se tornou recorrente nas críticas.
A ascensão à porta-voz da Corte
Capixaba, Giselly Siqueira começou sua trajetória no jornalismo em pequenas redações, mas rapidamente migrou para o universo da comunicação institucional. Atuou como assessora em entidades da magistratura, como a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) e a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho). Foi nesse ambiente — de proximidade com juízes e bastidores do Judiciário — que construiu as relações que mais tarde lhe abririam portas em cargos de alto escalão.
“Ao longo da minha vida profissional liderei setores de comunicação de importantes instituições públicas e desenvolvi uma forte rede de contatos com a mídia nacional e internacional”, o que Giselly diz de si mesma no LinkedIn.
A virada veio em 2005, quando assumiu a chefia da comunicação da Procuradoria-Geral da República (PGR), permanecendo até 2013. Enfrentou os anos mais intensos do Ministério Público Federal, sob as gestões de Antônio Fernando de Souza e Roberto Gurgel, em meio ao Mensalão e à Caixa de Pandora. Coube a ela blindar procuradores, redigir notas e gerenciar a relação com a imprensa em meio a crises políticas. Consolidou-se, assim, como uma operadora discreta e eficiente.
De lá em diante, ocupou postos-chave em Brasília: passou pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), comandou a comunicação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em diferentes gestões e trabalhou em grandes agências de relações públicas. Em 2019, viveu seu episódio mais polêmico ao ser nomeada assessora especial de Comunicação de Sergio Moro no Ministério da Justiça. A permanência, porém, foi curta: em julho do mesmo ano pediu exoneração em meio à crise da Vaza Jato.
Em 2021, retornou ao TSE para chefiar a Secom durante as eleições de 2022, liderando a política de enfrentamento à chamada “desinformação”: lançou guias, firmou parcerias com plataformas digitais, implantou um chatbot no WhatsApp e coordenou o Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação. No próprio LinkedIn, Giselly ainda se apresenta, de forma desatualizada, como “Secretária de Comunicação e Multimídia do TSE, coordenando a comunicação para as eleições de 2022” — uma descrição que ela nunca revisou desde o fim daquela fase.
Depois, assumiu novamente a Secom do CNJ em junho de 2024, até ser nomeada, em 2025, para o posto máximo da sua carreira: chefe da comunicação do Supremo Tribunal Federal (STF). A nomeação a colocou no centro da narrativa institucional da Corte em um dos momentos mais sensíveis da história recente, acumulando a experiência de quem ajudou a moldar, no TSE, a estratégia de comunicação e o aparato de moderação de conteúdos digitais.
As críticas e o risco institucional
Já em 2019, nomes como o do jornalista Rafael Fontana advertiam para uma possível “infiltração da Globo” no governo com a nomeação de Giselly no Ministério da Justiça. Para ele, colocar a nora de Míriam Leitão em um cargo estratégico era um erro grave. Nesta terça-feira, Fontana escreveu no X (antigo Twitter) que havia alertado o governo Bolsonaro ainda em janeiro de 2019 — mas, segundo ele, nada foi feito. “O governo Bolsonaro era muito amador”, afirmou.
Hoje, o alerta ressurge com mais força. As revelações de Tagliaferro, somadas à trajetória de Giselly, indicam que a responsável pela comunicação da mais alta Corte, inclusive durante o julgamento de Bolsonaro e durante as eleições de 2026, pode ter atuado como importante elo em canais informais de censura.
Enquanto o Senado prossegue com investigações, uma coisa é certa: o nome de Giselly Siqueira, outrora nos bastidores, agora está sob os holofotes. A democracia brasileira assiste, atenta, ao desenrolar desse enredo que mistura família, poder e informação.
Até o momento da publicação desta reportagem, não recebemos retorno de Giselly Siqueira. O espaço segue aberto para manifestação.
Ainda acredito que anistiar terroristas foi e é um erro. A anistia de inocentes, às vezes, é a única solução. Mas acho que uma anistia ampla, geral e irrestrita não é o caso aqui. Durante o período militar, existia força dos dois lados. Desta vez, a luta é bem desigual. Os anistiados daquela vez voltaram e estão destruindo o nosso país e o nosso futuro. Hoje, sabemos que anistiá-los foi um grande erro.
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