Condenação de “deepfaker do Lula” por ofensa a movimento Gays com Bolsonaro expõe rede de lobistas ligados à China
Condenado por difamação, Brunno Sarttori expõe em seus bastidores uma rede que vai de jatinhos de luxo a lobistas ligados à China.
O influenciador digital Brunno Sarttori — conhecido por suas montagens em vídeo com técnicas de deepfake para ridicularizar o ex-presidente Jair Bolsonaro e por sua militância em defesa do governo Lula — foi condenado pela Justiça paulista a indenizar os influenciadores bolsonaristas Márcio Guerra e Dom Lancellotti.
Sartori publicou em suas redes sociais uma imagem em que os dois apareciam segurando a bandeira do movimento Gays com Bolsonaro, fundado por Dom, com a legenda “judeus com nazistas” — numa comparação que sugeria que o apoio de gays a Bolsonaro seria equivalente ao de judeus ao nazismo.
A publicação, segundo a juíza responsável pelo caso, tinha caráter ofensivo e desumanizador, ao associar os influenciadores ao nazismo em tom de deboche. Depois da postagem, seguidores de Sarttori desencadearam uma onda de ataques virtuais, com xingamentos, ofensas e até ameaças. Embora tenha sido apagada, ainda hoje circulam reações como a do ex-BBB e ex-deputado Jean Wyllys, que ironizou: “Na Bahia, a gente diria ‘bando de bicha burra e descompreendida’”.
Diante disso, Dom e Márcio acionaram a Justiça em busca de reparação. Na contestação, Sartori alegou que se tratava de um “trabalho jornalístico” protegido pela liberdade de expressão. A justificativa foi rejeitada pela magistrada, que apontou o caráter difamatório da postagem.
“Esta frase, desprovida de qualquer contexto informativo ou jornalístico, extrapola a lícita liberdade de expressão e gera dano moral indenizável. Associar a imagem de alguém ao Holocausto não é respeitoso nem com as vítimas, nem com aqueles que tiveram suas imagens ligadas de tal forma. Tal como feita, não há finalidade de informar, mas sim de chocar”, escreveu a juíza na sentença.
O advogado Emerson Grigoletti, que representa Dom e Márcio, comemorou a decisão afirmando que “a verdade foi restabelecida, inclusive quanto à mentira de que o requerido estaria gravemente adoecido. Não houve censura, mas sim justa reparação dos danos causados.”
“Eu não entendo o motivo de aquelas pessoas que mais pregam respeito, união e amor ao próximo serem justamente as que mais atacam nas redes sociais. Hoje, o movimento LGBT é o que mais prejudica e atrapalha a vida de nós, homossexuais. Não queremos destruir nada, apenas participar do debate. Então não vejo motivo para tanta agressão, tanta ofensa e tantas ameaças nas redes sociais”, disse Dom Lancellotti.
Procurado pela reportagem, Brunno Sarttori não se manifestou até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto para que ele apresente sua versão dos fatos.
A desculpa esfarrapada e o julgamento à revelia
A sentença que condenou Sartori ao pagamento de R$ 20 mil por danos morais, além de multa por litigância de má-fé, também revelou uma tentativa frustrada de burlar a Justiça: o influenciador faltou à audiência alegando um súbito problema de saúde.
Mas a justificativa não resistiu a uma simples verificação em suas próprias redes sociais. Na mesma data em que dizia estar doente, Sartori aparecia em Copacabana, comemorando com champanhe o voto de Alexandre de Moraes no primeiro dia do julgamento de Jair Bolsonaro. Poucas horas depois, embarcou em um jatinho rumo a Brasília — justamente para acompanhar, de perto, o prosseguimento do julgamento no STF, iniciado no dia 2.
Diante da evidente contradição, a juíza rejeitou o pedido de adiamento, declarou revelia e aplicou a pena de litigância de má-fé por alteração da verdade dos fatos.


O jatinho e o advogado lobista
Há algo ainda mais revelador nos stories utilizados no processo pelos influenciadores bolsonaristas, publicados dias antes da condenação de Brunno Sarttori. Quem aparece com ele no jatinho rumo a Brasília? O advogado Roberto Bertholdo – nome antigo nos bastidores da política nacional, envolvido em escândalos de corrupção e espionagem desde os anos 2000. Já foi condenado por grampos ilegais contra Sérgio Moro, acusado de tráfico de influência, sequestro, tortura e até de compra de decisões judiciais.
Durante o primeiro governo Lula, ocupou cargo no conselho de Itaipu e manteve, ao longo dos anos, ligações políticas com figuras politicamente improváveis, como o ex-deputado Tony Garcia, do qual foi suplente, e a ex-deputada Joice Hasselmann. Seu nome também surgiu nas investigações da Operação Hurricane, deflagrada em 2007, que desmantelou uma rede de compra de decisões judiciais em favor de bingos e caça-níqueis, envolvendo magistrados, empresários e advogados.
Em 2020, Bertholdo foi alvo da PF sob suspeita de envolvimento em um esquema de desvio de verbas milionárias da saúde durante a pandemia, ligado ao IABAS, incluindo contratos para hospitais de campanha e compra de respiradores. As investigações apontaram ainda conexões políticas do grupo com Flávio Dino, então governador do Maranhão.
Em julho de 2025, durante os encontros do BRICS no Rio de Janeiro, Bertholdo foi anfitrião de um coquetel trilíngue em sua residência, ao lado do editor-chefe do site Brasil 247, Leonardo Attuch, com a presença de nomes de peso da diplomacia informal chinesa, como Li Bo, do jornal Guancha, e Helen Han, do Beijing Club for International Understanding. O evento, descrito como uma "joint venture de boas intenções", foi embalado por champanhe, risoto e obras de arte, sendo celebrado como símbolo do soft power sino-brasileiro e de uma aproximação estratégica que misturava cultura, política e interesses geopolíticos.
No programa Conversa Timeline desta quinta-feira (4), os jornalistas exilados Allan dos Santos e Luis Lacombe relembraram o encontro. Allan exibiu um tuíte em que Bertholdo o chamava de “lixo” e rebateu com ironia:
“É uma medalha ser chamado de lixo por um patife que está babando ovo e recebendo dinheiro do Partido Comunista Chinês. Que a Magnitsky te alcance, Bertholdo.”
Allan também chamou atenção para o timing do coquetel: um mês depois, o Brasil 247 anunciava uma parceria editorial com o jornal estatal chinês Global Times – alinhado diretamente ao Partido Comunista Chinês. O acordo estabeleceu uma seção fixa no 247 com conteúdo produzido em Pequim e, em contrapartida, uma vitrine para o conteúdo da mídia brasileira voltado ao público chinês.
Segundo Allan, teria sido Bertholdo, ao lado de Joice Hasselmann, quem articulou a ponte entre políticos recém-empossados do PSL e autoridades da China. A referência remete à viagem de deputados do partido ao país em 2019, logo no início da legislatura, quando o grupo se reuniu com autoridades e empresários chineses em uma missão que causou controvérsia à época.
Em 2023, Bertholdo reapareceu em outra missão empresarial à China, organizada para acompanhar a visita oficial de Lula a Xi Jinping. Embora o presidente tenha adiado a viagem por questões médicas, a programação para empresários e lobistas seguiu normalmente — e lá estava Bertholdo, na lista oficial de convidados da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Descrito pelo jornalista Rodrigo Rangel como um dos “personagens enrolados do submundo de Brasília”, o advogado-lobista circulou em Pequim ao lado de gigantes do agronegócio, como Marcos Molina (Marfrig), e do deputado petista Zeca Dirceu, filho do ex-ministro José Dirceu. Falante, vestido de Prada, Bertholdo não escondeu seu interesse em aproveitar contatos privilegiados. Questionado, afirmou ter ido “mais para passear” e tratar de negócios de um cliente da área de energia — sem revelar detalhes, alegando cláusula de sigilo profissional.
Em resumo, há algo mais profundo na atuação de Sartori. O que se vê é uma rede articulada, que conecta influenciadores digitais, operadores políticos e interesses internacionais. Se há algo que esse roteiro ensina, é que nem toda deepfake consegue mascarar a verdade quando ela aparece nas redes.
O "esgoto" de BSB está escorrendo a céu aberto!
Cada vez mais, mais pessoas estão conseguindo enxergar.
Pobre Brasil, país que tem muitos homens, que se colocam preço.