A Investigação

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AmericaFest: 8 lições do Turning Point de Charlie Kirk para a direita brasileira

O que o maior evento conservador jovem dos EUA ensina sobre organização, cultura e formação política de longo prazo.

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David Agape
dez 24, 2025
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O legado de Charlie Kirk

Entre os dias 17 e 21 de dezembro de 2025, A Investigação esteve no AmericaFest, evento anual organizado pelo Turning Point USA, em Phoenix, no Arizona. Foram cinco dias intensos de palestras, networking e observação de como a direita conservadora americana se organiza, comunica e forma quadros. Fui ao evento ao lado de Allan dos Santos, jornalista brasileiro exilado nos Estados Unidos, que generosamente viabilizou os ingressos para nós. O convite foi concedido via TPUSA Rise, braço do Turning Point voltado ao público negro e latino, que realizou painéis específicos em um hotel em Tempe, no Arizona.

O AmericaFest aconteceu no Phoenix Convention Center. O local é monumental. O palco principal comporta algo em torno de 30 mil pessoas, com estrutura de som, luz e telões comparável à de grandes shows internacionais. Paralelamente, o evento se espalha por auditórios menores, onde ocorrem painéis temáticos, debates setoriais e treinamentos.

Há ainda, por todo o espaço, dezenas de estandes de veículos de imprensa conservadores, como Daily Wire, Fox News, Blaze Media e OAN, além de fundações, think tanks e organizações militantes: grupos pró-vida e de desenvolvimento masculino, entidades contra a doutrinação ideológica nas escolas, defensores da liberdade acadêmica, associações religiosas cristãs e judaicas, empresas de suplementos e saúde, além de instituições ligadas ao aparato estatal americano — ICE, Homeland Security e até estandes com veículos blindados expostos ao público.

O evento reuniu o núcleo duro da direita conservadora dos Estados Unidos. Passaram pelo palco nomes como J. D. Vance, Donald Trump Jr., Tulsi Gabbard, Vivek Ramaswamy, Tucker Carlson, Ben Shapiro, Glenn Beck, Rob Schneider e Steve Bannon. Uma das surpresas desta edição foi a aparição da cantora Nicki Minaj que, no último dia do evento, subiu ao palco principal ao lado de Erika Kirk, viúva de Charlie Kirk e atual líder do TPUSA. A presença da rapper demonstra o esforço do Turning Point em dialogar com públicos que tradicionalmente não orbitavam a direita institucional.

O AmericaFest acabou assumindo também o papel de um grande memorial ao legado de Charlie Kirk, fundador do Turning Point, assassinado em 10 de setembro durante um evento da organização em Utah. O autor do ataque, Tyler Robinson, foi preso e responde por homicídio qualificado. À época, vieram a público informações de que ele mantinha um relacionamento com uma mulher trans e havia feito declarações relacionadas a temas de identidade de gênero.

Em Phoenix, a presença de Kirk se impunha de forma quase constante. Sua imagem aparecia nos telões, seu nome era reiteradamente mencionado nos discursos, e sua trajetória servia de fio condutor para boa parte da programação. O AmericaFest deixou de ser apenas um grande encontro político e passou a operar como espaço de consolidação do projeto que ele construiu: uma direita jovem, organizada, assumidamente confessional e preparada para a disputa cultural de longo prazo.

Embora ao longo das palestras tenham surgido diversas tensões internas — rachas na direita, embates públicos sobre acusações de antissemitismo e disputas em torno do papel dos Estados Unidos na relação com Israel —, nada disso foi suficiente para apagar o brilho do evento nem reduzir seu impacto. Para quem observa a partir do Brasil, o AmericaFest funciona quase como um manual prático do que a direita brasileira ainda não conseguiu construir.

As principais lições observadas no AmericaFest foram:

  1. Ativismo jovem em escolas e universidades;

  2. Eventos anuais massivos para unir e dar identidade ao movimento;

  3. Alcance de minorias e comunidades sub-representadas;

  4. Integração da fé e dos valores cristãos no centro da mensagem;

  5. Debate aberto de divisões internas e defesa da liberdade de expressão;

  6. Primazia da cultura sobre a política;

  7. Espaço para iniciativas não políticas e construção de ecossistema social;

  8. Mobilização de base e organização permanente de voluntários.

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